Professor de Rio Claro vence concurso nacional sobre Machado de Assis

16/09/2009

O clássico romance de Machado de Assis, Dom Casmurro, deixou além da eterna dúvida sobre a fidelidade de Capitu, uma série de momentos antológicos como o soneto inacabado do protagonista Bentinho. Terminar o poema foi o desafio lançado pela editora Litteris para comemorar o centenário da morte do escritor e, entre as mais de três mil propostas recebidas de todo o país, Rio Claro foi destaque com o trabalho do professor da rede municipal de ensino Pedro Pancher, primeiro colocado no concurso.

Além de vencer milhares de concorrentes, a participação de Pancher no concurso também coroa a trajetória do professor de 56 anos que leciona desde o início do ano na escola municipal Djiliah Camargo de Souza, onde trabalha na alfabetização de crianças de primeira série do Ensino Fundamental. É sua primeira atuação na área desde que se formou em pedagogia no final do ano passado, após anos trabalhando como pintor do setor de trânsito da prefeitura.

“Desempenhei essa função de 2003 até o ano passado”, comenta, revelando que o soneto que lhe rendeu o prêmio no concurso nacional foi escrito nos intervalos do seu trabalho como pintor. Antes, era autônomo como desenhista de propagandas em praças.

Quando entrou na prefeitura em 2003, Pancher tinha feito até a sétima série do Ensino Fundamental. Instigado pelos amigos, freqüentou as aulas oferecidas pela prefeitura em Educação de Jovens e Adultos (EJA) na escola Armando Grisi e fez o segundo grau em supletivo através de telecurso no Sesi. Em 2006, entrou nas faculdades Asser para, com diploma de pedagogo, dar aulas na rede municipal de ensino de Rio Claro a partir deste ano, enquanto cursa pós-graduação em psicopedagogia.

Soneto

O soneto iniciado por Machado de Assis e completado por Pancher pode ser conferido no livro Um Soneto para Machado de Assis, lançado na última sexta-feira (11) na bienal do livro do Rio de Janeiro. O trabalho do rio-clarense é o primeiro dos mais de 100 poemas reunidos na edição, selecionados a partir do concurso da editora Litteris que teve como segundo colocado um gaúcho e como terceiro, um mineiro.

Pancher intitulou o soneto de “Eu Trovador” e completou os 12 versos ausentes na obra original assumindo o ponto de vista de Bentinho, personagem principal do livro. Em Dom Casmurro, capítulo 55, Bentinho apresenta o primeiro verso, “Oh flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!” e o último, “Perde-se a vida, ganha-se a batalha!”. O desafio era fazer os versos que recheiam o poema, ironicamente abandonado pelo personagem.

 “Procurei ficar mais centrado no próprio Bentinho para sair um pouco daquela idéia de usar o soneto como veículo para o personagem louvar a Capitu”, comenta Pancher. A paixão pelas letras acompanha o professor desde antes de sua incursão pela vida acadêmica.

Pancher relembra participação em concursos anteriores, como o São Paulo Prosa e Verso, em 2006, e São Paulo uma Metrópole da Palavra, ambos promovidos pela editora Litteris. Nesse último, também teve um conto publicado.

Agora, vê na premiação mais um estímulo para realizar o sonho de escrever um livro infantil, “o que é bem mais difícil de realizar”, avalia. Por outro lado, o professor vê em seu trabalho na alfabetização de crianças uma grande fonte de aprendizado para chegar a mais esse objetivo.